Cantar o Sacramento

Cantar o Sacramento do Matrimônio


              Como o Matrimônio se destina ao desenvolvimento e à santidade do povo de Deus, a sua celebração é essencialmente comunitária. A liturgia é o culto público da Igreja. Nela, toda a comunidade é convidada a participar. Por este motivo, não se deve celebrar o Matrimônio em lugares fechados, onde a participação de qualquer fiel seja impedida. Por ser o culto da Igreja reunida, devem-se evitar outros ambientes que não possuam a índole religiosa. Por isso não se celebra o casamento em chácaras, clubes, etc. É celebrado sempre na igreja, lugar oficial do culto da comunidade cristã.
           O atual Ritual do Matrimônio se preocupa em apresentar uma celebração mais significativa e participada, criando um ambiente religioso e sagrado, eliminando tudo o que é profano. A música e o canto são meios privilegiados para promover esta participação. “Os cantos escolhidos sejam de acordo com o Rito do Matrimônio, exprimindo a fé da Igreja” (Introdução Geral do Ritual do Matrimônio, 30).
            Falar dos cantos litúrgicos na Celebração do Matrimônio é um verdadeiro desafio. Quase não há bibliografia sobre esta matéria. Os autores litúrgicos trabalham exaustivamente a teologia, a liturgia, o rito, menos o canto litúrgico para este sacramento. Com certeza, por falta de uma reflexão adequada e, consequentemente, por ignorância de muitos, deram-se os abusos no campo da música, que hoje tentamos corrigir.
               Procurarei (As expressões anteriores estão na terceira pessoa do plural – grifadas por mim, na cor rosa. Seria bom padronizar, conforme sua escolha) levar em conta o costume comum e, em relação aos cantos e músicas na celebração do matrimônio, estabelecer, a partir da teologia e da liturgia do sacramento, a função ritual de cada canto. Mas fica o desafio para aqueles que são peritos em liturgia para darem um pouco mais de atenção a este respeito.

Canto de Entrada dos Noivos:

            Este canto é previsto no Ritual do Matrimônio. O ritual prevê que o sacerdote acolha os noivos a porta da igreja. Em seguida, faz-se a procissão de entrada até o altar. Enquanto acontece a procissão, canta-se um canto de entrada. Pastoralmente, isto não tem sido possível. Não é preciso dizer as razões. Mas é ideal que seja segundo a prescrição que está no ritual. O que acontece normalmente é a entrada do noivo, seguida da entrada da noiva, enquanto o sacerdote os espera no altar.

              Para a entrada dos noivos, o canto deve expressar o sentido da celebração. No matrimônio humano, celebramos o Amor de Deus pela humanidade inteira. Portanto, o canto de entrada deve expressar este mistério, o mistério do Amor de Deus realizado no amor humano. Este canto tem por finalidade abrir a celebração, unir os corações em torno do mistério do Amor de Deus, que atingiu a plenitude na doação da vida de Jesus Cristo para salvação de todos. Sendo assim, este canto não evoca somente os sentimentos do casal, mas de toda a comunidade reunida. Portando, não se trata de um canto qualquer.



Eis um exemplo de canto de entrada:

1. Duas vidas a fé celebrando / a pulsar já num só coração, / para o altar vão na paz caminhando, / na certeza do amor-comunhão.
Refrão: Também Cristo, à Igreja se unindo / no mais santo e sublime esponsal, / fez do amor, entre esposos tão lindo, /sacramento do amor eternal.
2. O Senhor, vindo a nós, na alegria, / na harmonia de um lar quis nascer! / Matrimônio é então liturgia, / que faz vidas em Deus florescer!

(Hinário Litúrgico, Fasc. 4 – CNBB)

            Este canto expressa bem a índole do canto de abertura. É a liturgia que celebramos junto com a união dos noivos. Desta união, toda a Igreja participa, alegra-se e abençoa. Deixa bem claro o amor de Cristo pela Igreja e a natureza do matrimônio.

Salmo Responsorial
            
A Liturgia da Palavra da celebração do matrimônio é bem rica. “A Liturgia da Palavra tem grande importância para a catequese que se deve fazer sobre o próprio sacramento e os deveres conjugais...” (Ritual do Matrimônio, 34). Além do texto bíblico escolhido para a celebração, é conveniente que se escolha um salmo. O próprio ritual apresenta uma seleção de salmos que podem ser usados na celebração. O salmo é uma resposta orante e por natureza foi composto para ser cantado. É Palavra de Deus e por isso merece toda a atenção assim como as demais leituras. Existem boas melodias para a execução do salmo. O modo mais apropriado e comum entre nós é como responso,: o salmista entoa as estrofes enquanto a assembléia responde com o refrão. Vale mencionar o maravilhoso trabalho feito pela Ir. Miria T. Kolling, no livro “Cantando os salmos e aclamações”. Este material, além das partituras, está gravado em cds.

Canto de Aclamação ao Evangelho

            Antes da proclamação do Evangelho é oportuno entoarmos o canto de aclamação ao evangelho. que, por sua própria natureza, é uma aclamação, um viva a Jesus que vem nos falar. Assim como Jesus está presente na Eucaristia, ele também está presente na Palavra proclamada. A aclamação ao evangelho é uma preparação. Deve criar um clima de expectativa, de prontidão. É um canto vibrante e alegre. A música deve traduzir este entusiasmo. Com ritmo marcado, deve comunicar exultação, alegria... A aclamação deve ser cantada por toda a assembleia.

Exemplo:

Refrão:
Viva Jesus, / que vai agora nos falar,
Mulher e homem, ó Senhor, vem libertar.
Deus é amor, caridade.
Se Deus nos amou deste modo,
Também nós nos devemos amar.
(Hinário Litúrgico, Fasc. 4 – CNBB)

Bênção das Alianças


           O Rito do Matrimônio propriamente dito acontece somente depois da Liturgia da Palavra. O rito consta de: diálogo, consentimento, bênção e entrega das alianças. Neste momento é costume fazer um canto. Normalmente faz-se a Ave Maria. Na verdade não se deveria haver canto neste momento, durante as palavras, que devem ser ouvidas por todos, sem algo que possa atrapalhar. Não existe música de fundo neste momento. Não há lugar também para a Ave Maria na liturgia do matrimônio. Quanto termina a entrega das alianças, aí sim poderia ser feito um canto. Mas este canto deve expressar o verdadeiro significado deste ato. As alianças que os nubentes entregam um ao outro não são apenas sinal de fidelidade e de amor entre ambos, mas significa o amor que Deus sente por todos os homens. São um selo de fidelidade. O casal que se torna fiel no amor conjugal torna-se igualmente fiel ao amor que Deus tem pelo seu povo. Quem é infiel no casamento quebra a Aliança com Deus.

Exemplo:

1-Aliança em meu dedo / é riqueza em minha mão, / ao vê-la, vês meu segredo: / tem dono o meu coração.
Refrão: Ó Pai, fizestes Aliança / com vosso povo na história: / vós sois a nossa esperança / neste momento de glória; / que a vossa fidelidade / encha o nosso coração, / para ser linda verdade / a aliança na nossa mão!
2. A eternidade se esconde / nesta aliança pequenina: / começa, não sabes onde, / nem sabes onde termina.

(Hinário Litúrgico, Fasc. 4 – CNBB)

Canto de Comunhão (quando houver)

            O Ritual do Matrimônio prevê que, quando houver comunhão eucarística, pode-se fazer um canto apropriado. Aqui vale os mesmos princípios para o canto de comunhão na celebração da eucaristia: deve expressar a comunhão das vozes enquanto se comunga. É um canto alegre e de índole comunitária, pois comungar é fazer comunhão com os irmãos e irmãs de fé. O próprio significado do canto de comunhão exige que dele todos participem. Quando há comunhão eucarística, a prática comum é somente o casal comungar. Às vezes, pais e padrinhos também participam da comunhão eucarística. Porém, é bom lembrar que a comunhão eucarística é própria da celebração da missa. Portanto, deve-se conduzir os fiéis para a participação na celebração da eucaristia. O canto deve expressar o amor de Deus no amor do casal, no amor humano.

Exemplo:

1. Os olhos do meu amado / refletem a luz do amor. / Quando os olhos são brilhantes, / são de Deus o esplendor!
Refrão: Eu sou para o meu amado / meu amado é para mim. / O amor faz o casamento, /foi Jesus que quis assim!
2. A face do meu amado / é o sol que me dá calor. / Nós somos imagem de Deus, / demonstrando seu amor!...

(Hinário Litúrgico, Fasc. 4, pág. 69)


Músicas na hora dos cumprimentos



             É costume, enquanto o casal cumprimenta os pais e padrinhos, algumas músicas serem cantadas. Neste momento, principalmente, acontecem grandes abusos. Temas de filmes, músicas espiritualistas, sucessos das pistas, entre outras tantas, são executadas neste momento. Um erro grave que deve ser corrigido com determinação. Os motivos que os noivos dão são muitos: “esta música tocou meu coração”, “marcou o nosso namoro” (tirei o efeito itálico, pois está entre aspas), etc. Mas estes motivos não justificam tamanho abuso. Volto a lembrar o que diz a Instrução Musicam Sacram: “não se introduza na celebração nada que seja puramente profano ou pouco compatível com o culto divino” (MS 43). O que se canta é o Amor de Deus que é testemunhado na união entre o homem e a mulher, no amor conjugal. Porém, a liturgia permite, de certo modo, o uso de músicas instrumentais e algumas obras clássicas na liturgia. Mas, mesmo em relação a estas músicas, devem-se ter critérios para sua escolha. Sobre isto, falaremos mais adiante. Na saída do casal pode-se entoar um outro canto, ou executar uma música instrumental enquanto saem pelo corredor central. O princípio é o mesmo que dos demais cantos.